Chegada em Montréal

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Aluguel do nosso apartamento

Nossa primeira semana aqui foi muito corrida, nem vimos o tempo passar. Para tudo que precisamos resolver é necessário marcar uma reunião, mas fomos sempre muito bem atendidos em todos os lugares. Resolvemos todas as burocracias do governo logo no início. Uma coisa diferente para nós foi a questão do horário, porque aqui escurece muito tarde e as noites são muito mais claras que no Brasil (durante o verão, pois no inverno o sol se põe as 16h30). Isso faz com que percamos a noção da hora, as vezes achamos que é cedo e quando nos damos conta já é muito tarde. Todas as casas por aqui tem muitas janelas grandes, de vidro e sem grades, por isso as casas recebem muita claridade, então para nós tem sido muito bom, pois acordamos logo cedo sem nos sentirmos cansados e nem com vontade de continuar na cama, o sol nos dá muita disposição (pena que no inverno isso vai acabar).

E por falar na falta de grades nas janelas, ainda não vi uma casa sequer com muros, no máximo com uma cerca viva para delimitar a propriedade e todas tem muito vidro, se não tiver cortinas ou persianas podemos ver toda a casa hehehe. Ainda não vi nenhum lugar “feio”, existem os bairros lindos, bonitos e menos bonitos. Alguns bairros são considerados mais nobres, com muitas casas e prédios residenciais, mas todos são bonitos, possuem parques e muitas áreas verdes, toda a cidade é bem arborizada.

Quando chegamos aqui entramos em contato com as pessoas que conhecíamos dos encontros no Rio e elas nos deram algumas dicas bem úteis. As pessoas com quem tínhamos mais intimidade (Nieli/Tiago, Vivian/Alex e Clarisse/Pedro) estão morando em um bairro chamado Rosemont. Esse é um grande bairro, com bastante contraste, pois as áreas Norte e Sul não são boas (tem problemas de gangue), mas a região central é muito boa, especialmente a parte que fica em frente ao parque Maisonneuve (um parque enorme, onde ficam o Biodome, o Estádio Olímpico e o Jardim Botânico).

Nós gostamos muito do local e os amigos moram ali, então começamos a procurar um aluguel nessa área. Clarisse viu diversos locais e nos passou, mas não conseguimos alugar em nenhum, alguns descartamos porque não dava acesso a uma boa escola e outros porque não conseguimos mesmo. O prazo para a saída do apartamento que alugamos no início estava se esgotando e começamos a ficar preocupados com o fato de ainda não termos conseguido alugar em nenhum outro local. Clarisse nos passou, ainda quando estávamos no Brasil, um e-mail que foi passado para ela por uma outra colega avisando de um apartamento para alugar em Mont-Royal, que é um bairro distante de onde estávamos procurando, além de não ter metrô por perto, e por isso não demos atenção.

Como já estávamos muito preocupados, resolvemos olhar esse apartamento e Grey telefonou para marcar uma reunião, mas a ligação caiu na secretária eletrônica e como ele não lembrava o número do nosso telefone para deixar na mensagem, desligou. Mais tarde recebemos uma ligação e a pessoa falou que tinha visto uma ligação nossa e que apesar de não termos deixado nenhum contato resolveu retornar a ligação (ela ligou porque tinha identificador de chamadas, mas disse depois que ligou já sem esperanças, só por desencargo de consciência mesmo), então marcamos para ver o apartamento no dia seguinte pela manhã (estávamos no sábado e marcamos para o domingo). Nesse mesmo dia, a noite, fomos visitar uma colega que conhecemos pela net (Patrícia) e que nos deu muitas dicas de escola (aqui nós não escolhemos a escola, a pessoa estuda na escola do bairro em que mora, então escolhemos o bairro de acordo com a escola que queremos estudar, mas depois descobrimos que essa regra é só até o primário, pois para o secundário a pessoa pode morar em um bairro e estudar em outro), ela nos mostrou como ver a escola que seria designada através do código postal da rua (no Brasil fizemos um milhão de pesquisas porque não sabíamos que era tão simples, demos voltas imensas para descobrir as escolas de cada bairro hehehe) e nos falou de algo que não sabíamos ainda: dentro de Montreal existem outras “cidades”, que na verdade são bairros com subprefeituras (como a Barra, por exemplo), e essas cidades tem comissões escolares próprias, independentes de Montreal e que, por serem bem menores, seus recursos são ainda melhor empregados que em Montreal. Resumindo: são lugares mais bonitos, mais nobres, com melhores parques, ruas, casas mais bonitas, melhores escolas e, consequentemente, muito mais caros de se morar. Mas aí veio o “pulo do gato”: algumas ruas de Montreal, pela proximidade com esses locais, permitem o acesso as suas escolas e clubes, então precisávamos descobrir esses lugares e encontrar aluguel por lá, é claro. Ela nos deu a dica de um bairro (Outremont) e eu, Grey e Allan combinamos de ir dar uma volta nesse bairro no dia seguinte para olhar e procurar casa para alugar, depois era só voltarmos na casa da Patrícia para procurarmos as escolas através do computador.

Saímos de lá muito tarde e chegamos em casa já de madrugada, mas tínhamos que acordar cedo no dia seguinte porque marcamos de olhar o apartamento no domingo pela manhã. Na verdade só fomos porque já estava mesmo marcado, a menina foi muito simpática e combinou de nos pegar de carro no metrô e ficaria muito chato desmarcar, mas eu estava louca para desistir achando que não ia mesmo dar em nada... ainda bem que Grey não pensou em desistir também.

Chegamos na estação marcada (Namur - que eu achei bem longe, pois estava na Berri-Uqam) e fomos de carro para o tal bairro. Pois bem, quando vimos o local nem precisamos falar um com o outro, dava para ver nos olhos as expressões de “é aqui que eu quero morar”. Eu me via passeando pelas ruas do bairro, andando de bicicleta... e, pela primeira vez desde que tínhamos chegado, vi o Allan feliz, fazendo planos, e isso para nós valia mais do que qualquer coisa. A menina que nos pegou e estava alugando é uma brasileira, do Piauí, chama-se Juliana e é super simpática. Ela e o marido nos receberam muito bem, nos sentimos como se nos conhecêssemos há um tempão, ficamos super a vontade. Eles tem um filho de 1 ano e quatro meses, lindo demais, tão simpático quanto os pais, e logo estávamos brincando com ele também. O prédio tem síndico no local, aquecimento incluso no aluguel (isso faz uma diferença enorme no inverno), lavadora e secadora. A cozinha já vem equipada com fogão, geladeira com freezer, exaustor e armários. Os quartos tem armários embutidos e por isso não é necessário comprar guarda-roupas, o quarto de casal possui uma sacada com vista para uma pequena rua nos fundos do prédio. Todas as janelas são de vidro duplo para evitar a entrada de ar frio no inverno e possuem também uma tela de correr para evitar a entrada de insetos, pois o bairro é muito arborizado e geralmente tem mosquitos a noite. Além disso o prédio é conhecido aqui em Montreal como “Copacabana Palace”, porque tinha 12 famílias de brasileiros morando (agora tem 13). O detalhe importante: sabe a história do bairro em Montreal perto de uma das “cidades” aqui dentro? Pois é, esse lugar é lindo assim porque fica em uma área nobre, que é Mont-Royal. Mas a rua desse prédio tem uma particularidade: metade dela pertence a Montreal e a outra metade a Mont-Royal, o prédio fica na parte de Montréal e por isso o aluguel é acessível, a placa com o limite dos municípios fica alguns metros depois. Como a rua faz parte das duas cidades os moradores podem usufruir de tudo que as duas oferecem, inclusive das escolas.
Fotos do bairro
Aí veio nosso receio, pois tudo estava perfeito demais. Explicamos que adoramos tudo, que gostaríamos imensamente de ficar com o apartamento, mas que primeiro tínhamos que pesquisar a escola e ela disse que tinha uma escola muito boa depois da esquina, há cerca de 5 minutos andando. Deixou que pesquisássemos do seu computador e vimos que a escola era realmente excelente, com uma boa média e programa internacional, mas não tínhamos encontrado essa escola nas nossas pesquisas no Brasil porque ela faz parte da comissão escolar de Mont-Royal, e não de Montréal, que era a que estávamos pesquisando. Alem disso, a escola também oferece a classe de acolhida (classe d'accueil) para filhos de imigrantes, que é uma classe onde eles aprendem termos específicos em francês (como termos de matemática, por exemplo) e também aprendem a gramática da língua, para depois frequentarem a turma regular.

Esse casal estava querendo passar o contrato de aluguel porque vagou um apartamento no fim do mesmo corredor (mas de frente para a rua) e eles queriam se mudar para lá. O apartamento estava alugado para um argentino que resolveu se mudar para outro prédio, mas como seu contrato ainda estava em vigor ele tinha que continuar pagando o aluguel, mesmo não morando mais lá. Se o casal alugasse o apartamento o aluguel dele cessaria, só que para isso tinham primeiro que alugar o apartamento em que moravam, senão iriam pagar três meses de aluguel como multa. Na semana seguinte o argentino iria anunciar o apartamento e eles não queriam perder a oportunidade de pegar primeiro. Explicamos que precisávamos fazer nossa mudança antes do fim do mês, pois nosso contrato venceria dia 31/08/09 e Juliana combinou tudo com o síndico. Mesmo assim não demos resposta na hora, com medo de nos precipitarmos, pois medíamos a distância de tudo por Rosemont, que é o bairro onde moram nossos amigos, e esse Mont-Royal é distante de lá. Também não passa metrô e ficamos com medo do transporte não ser bom, nisso a Juliana disse que não podia dar opinião porque tem carro e não utiliza o transporte público, que seria melhor conversarmos com outras pessoas do prédio. Depois queria nos deixar no metrô novamente para voltarmos para casa, mas achamos melhor voltar de ônibus e sentir um pouco como era o trajeto, então ela nos levou para mostrar o centrinho comercial, o parque e a escola.

Voltamos de ônibus para casa e vimos que realmente o bairro não era distante, pois fica muito próximo ao centro. O interessante aqui em Montreal é que as coisas não são centralizadas, como acontece em todas as cidades que conheço. Ninguém vai ao Centro (da cidade) para resolver alguma coisa. As lojas, departamentos e tudo o mais são espalhados pela cidade, em todos os bairros. Os bairros perto do metrô possuem mais comércios, bares e lanchonetes, são mais movimentados. Quanto mais longe do metrô, mais residencial e, consequentemente, mais bonito e mais seguro. Ou seja, morar perto do metrô tem suas vantagens e desvantagens.

Na verdade, quando falo em segurança é impossível comparar com o Brasil, pois aqui nos sentimos seguros em todo lugar, mas mesmo assim não saímos por aí dando mole. No primeiro bairro que fiquei tinha todo tipo de comércio e também muitos pedintes nas ruas. Aqui não existem mendigos como estamos acostumados a ver no Brasil, existem “moradores de rua”, que são pessoas que optaram por morar na rua (muitos até vem de família com dinheiro). Essas pessoas passam o dia na rua mas recebem ajuda financeira do governo e a noite vão para um abrigo, só que é proibido entrar lá bêbado ou drogado, então se estiverem nesse estado terão que dormir na rua e a policia não dá mole, expulsa dos hospitais, das praças, dos metrôs e de qualquer lugar público em que estejam tentando dormir. Eles não tem permissão de pedir dinheiro mas pedem assim mesmo, jurando que é apenas para tomar uma cerveja (a primeira vez que um falou isso a gente não acreditou no absurdo hehehe), se quisermos podemos dar o dinheiro, mas se negarmos eles não podem insistir e nem nos insultar, apenas saem e pronto. Apesar de não mexerem com ninguém, não gostaria de morar em um lugar com pedintes, pois ficaria preocupada com  Allan andando sozinho.

Em alguns bairros que passamos vimos paredes pichadas, geralmente em bairros mais humildes, por isso sabemos logo que nesses locais sempre há algum tipo de gangue ou desordeiros e evitamos andar por bairros assim durante a noite, “é melhor prevenir do que remediar”. A pichação nesses bairros não é grande como vemos no Brasil, é claro, mas existe sim e para mim isso é sinal de desordeiros por perto. Aqui não existem lugares “feios”, podemos classificar em lindos, bonitos e menos bonitos. Você só começa a achar um bairro “menos bonito” depois de ver outro mais bonito que ele. Fomos ver outro bairro, inclusive o sugerido pela Patrícia, olhar outros lugares, mas nenhum tinha em nós o efeito causado por Mont-Royal e todos pareciam sem graça. Decidimos que era lá que queríamos mesmo morar. Ligamos no domingo mesmo e falamos com Juliana, marcamos uma reunião com o síndico para o dia seguinte e levamos nossos documentos para análise.
Entrada do nosso prédio e a rua onde ele está localizado
Como não tínhamos conta em banco e nem histórico de crédito no país ele nos pediu três meses de aluguel adiantado, o que já esperávamos mesmo. Dois dias depois ligou avisando que fomos aceitos pela dona do prédio e podíamos ir lá para assinar o contrato. Claro que Juliana também ficou muito feliz, e o argentino idem. No sábado (30/08) nossos amigos Tiago e Alex nos ajudaram a fazer a mudança e tivemos uma surpresa quando chegamos ao apartamento: Juliana nos deu uma televisão e uma mesa de vidro lindíssima para coloca-la, algumas persianas para as janelas, três cadeiras de madeira para a cozinha (compramos a mesa de cozinha que eles tinham), duas lixeiras, uma pequena estante para a sala, duas cadeiras de ferro para a sacada. O argentino deixou no apartamento dele e a Juliana nos deu: uma cama box de casal, um sofá muito bonito e super confortável, duas mesas de cabeceira. Ganhamos quatro cadeiras de escritório giratórias dos moradores do prédio (nem sabemos quem deu, porque tudo foi entregue para Juliana e ela nos passou, demos duas para outro amigo e ficamos com duas). Juliana ainda nos emprestou um colchão de solteiro para o Allan não precisar dormir no colchão inflável. Ou seja, começamos muito bem, graças a ajuda desses novos amigos. De quebra, nesse prédio tem um quartinho onde os moradores colocam os objetos que não querem mais e quem tiver interesse é só pegar.
E foi assim que começamos

Aqui isso é muito comum de acontecer, quando a pessoa não quer mais alguma coisa ela simplesmente coloca na frente de casa para alguém levar (geralmente fazem isso no dia do recolhimento do lixo reciclável, porque se ninguém pegar, o caminhão recolhe), e quem tem interesse pega, quem não tem deixa para o próximo.

3 comentários:

  1. Que legal ver meu nome aí no meio da história de vcs!! Melhor ainda é ver nossa amizade cada dia mais sólida aquí nessa terrinha!! Obrigada por fazer parte também da minha história!
    Bjss,estou adorando ler suas postagens!!

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  2. Oi Jucileide, adoro seu blog, faz tempo que leio e aprendo muitas coisas sobre a imigracao e o Quebec. Depois de quase 3 anos de processo finalmente estamos no final e iremos para Montreal logo...provavelmente em Junho. Gostaria de saber sobre esse predio, Copacabana palace...vc sabe se tem alartamentos para alugar ai ? me parecem que as escolas sao muito boas nessa area. Gostaria de tentar morar ai. Sr vc pider me ajudar com alguma dica, agradeco muuuuito !!!!
    Obrigada e um abraco,
    yara

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    1. Oi, Yara. Obrigada por visitar o blog. As escolas em Mont-Royal são realmente muito boas e o bairro é maravilhoso. Mas já fazem dois anos e meio que saí do prédio porque comprei uma casa, então não sei dizer se tem alguma vaga por lá. Eu acredito que tenha porque é um présio bem grande, com mais de sessenta apartamentos, então sempre tem algum vagando. Ainda moram muitas famílias de brasileiros por lá, algumas são novas e não conheço, outras são do tempo em que morei e por isso ainda mantenho contato. Mas a forma mais fácil de saber é me procurar no Facebook. Eu posso te adicionar na comunidade de brasileiras que temos lá e ficará mais fácil conseguir informações. Abraços

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